Lá pelo fim do dia, quando os restos do sol espalham cores no horizonte distante, o pequeno cão se lança contra o translúcido vidro do escurecido apartamento. Passos ecoam ao lado, subindo pelos degraus que serpenteiam grudados na parede, mas o pequeno cão continua a espreita, mirando pessoas e vultos que se movem na rua abaixo. buzinas, sirenes, estampidos... e mais sirenes. A noite cai lenta, iluminada por luzes amarelas suspensas em altos postes. O cão recusa o cansaço, continua junto a janela, a espera do que é seu. Pode-se ouvir novamente o som de uma sirene, quase apagada pela distancia em meio aos edifícios que comunicam o céu com a terra... e o cão resistente espera. Um táxi estaciona logo abaixo, a mulher desce do carro com cuidado para não acordar a garotinha que traz no colo. O cão se sobressalta, fixa o olhar na mulher que caminha lentamente. Pelas escadas novos passos, até que a porta se abre e a mulher adentra com a criança no colo; com cuidado ela caminha até o quarto onde deita a criança na cama, cobre seu corpo e tira o termômetro de sua boca. A mulher se senta aos pés da cama, enxuga o rosto e percorre o olhar em volta até fixar-se naquele rostinho redondo e despenteado que repousa sobre a cama. O cão atravessa o quarto e se aproxima lentamente entrando debaixo da cama, se deita e ali espera.
Ricardo Rodrigues Gyn, 20 de abril de 2010
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