Depois de um dia cheio, decidi fazer caminhar minha solidão pelo parque areião. Como de costume preferi a trilha mais fechada, em busca do ar mais puro. Eu caminhava cabisbaixo, os sentidos afluíam para o barulho de uma sirene que soava na cidade lá fora. Foi quando estremeci com a presença daquela mulher sentada no chão, no meio do trieiro. Tive um segundo susto ao perceber que era uma noiva, toda vestida de branco. Ela permanecia sentada, imóvel, com a cabeça encaixada entre os joelhos, deixando livre seu longo e volumoso cabelo castanho.
No automático, dei alguns passos, desviando-me dela lentamente e me esforçando para seguir caminho... mas não resisti, voltei-me e guardando distancia estendi a mão:
- Olá, você você está legal?
-Moça, você precisa de ajuda? insisti.
Depois de alguns segundos ela levantou o pescoço, e sem olhar em minha direção balançou a cabeça negativamente e começou a chorar. A maquiagem enegrecida escorria pelo branco do vestido, que se iluminava com minúsculas manchas de sol que penetravam através das folhas das árvores.
Me desculpei e toquei levemente seu ombro desnudo e frio. Ela me encarou, e ao perceber a palidez de sua pele recuei. Era perturbador, mas eu não conseguia me mover dali. Ela enxugou o rosto com o vestido, e sacudiu o cabelo, livrando sua face alva, revelando a beleza de sua pouca idade.
-Você tem horas? perguntou com voz tremula.
-Umas quatro e meia, acho.
-Não se preocupe comigo... pode ir, ficarei bem...
-Hum... uma noiva como você não deveria estar aqui, deveria?
-Não, nem aqui nem em lugar nenhum... que merda. Disse em prantos e em seguida liberou o peso de seu corpo, caindo lentamente sobre as folhas secas.
Me apressei em toma-la nos braços, tentando levanta-la. Ela se refez e me empurrou com o cotovelo.
Não avistei nenhum sangue no vestido, apenas formigas que caminhavam desorientadas transitando entre o tecido e a pele.
Ela se enlaçou com os próprios braços e começou a balbuciar... parecia rezar.... ou recitava algo. Senti calafrios
Vou procurar ajuda... disse eu, caminhando de costas lentamente.
Corri por algum tempo até chegar na área de convivência do parque onde avistei um guarda.
Ofegante, pedi socorro a ele, sem conseguir contar o que tinha visto... apenas dei a entender que alguém estava em perigo. Ele me acompanhou, mas para meu desespero, não encontramos nada. a jovem havia desaparecido. O guarda, me ordenou que aguardasse, e telefonou pedindo reforços. Enquanto ele examinava o local me embrenhei no mato e fugi exausto, tropeçando em mim mesmo.
No outro dia, vi a extensa matéria no jornal. o corpo de Berenice foi encontrado algumas horas depois, junto a uma área pantanosa do bosque. O jornal informou que Berenice fugira de casa dias antes, levando apenas a roupa do corpo e uma caixa com o vestido de noiva que pertencia a sua mãe. A garota se escondeu no bosque por dias, a espera de Eduardo, seu professor de espanhol que nunca apareceu.
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