Com a folga prolongada que consegui neste fim de semana, me deu vontade de fazer uma viagem. Consultei alguns amigos, e por causa do pouco tempo de que dispunha, resolvi fazer uma viagem que seria para Pirinópolis (ja fui varias vezes, inclusive de bike) ou Corumbá, que eu ainda não conhecia.
Fiz os preparativos da viagem, mas como sempre acontece, acabei esquecendo de levar algumas coisas (o que as mulheres erram para mais, os homens erram para menos na hora de preparar a bagagem). Sexta-feira pela manhã, a luz do sol entrou em meu quarto, me pegou pelo pé e acordei assustado: estava atrasado para sair para a viagem. Olhei no relógio da bicicleta, e lá ja estava dando quase 9h. Nunca tinha saido para uma viagem tão tarde. Nessa época de sol escaldante, o ideal é sair ainda pela madrugada. Será que devo ir ou não?
Por fim juntei tudo, peguei a bike e sai apressado, rumo a BR-153. A essa altura eu ainda estava em duvida: Pirinópolis ou Corumbá? So fui decidir no meio do caminho.
A paisagem externa estava abrasante, sob o sol. A paisagem interna meio nublada, com pendencias a serem resolvidas quando eu chegasse de viagem, ou talvez, quem sabe os mais de 100 km derreteriam dúvidas e incertezas, e talvez trouxessem um pouco de luz?
Em teresópolis parei para um gatorade e lanche. na porta do posto um casal em um possante parou para abastecer, o rapaz perguntou quanto eu ja tinha pedalado, e tive que chegar no ciclocomputador. 45h até ali. Ele me disse que no dia anterior havia pedalado 25. Você esta sozinho? Sim! Trocamos mais algumas palavras apresadas, e eles se foram, e eu retomei o pedal.
Como não tenho pedalado com regularidade, foi uma viagem desgastante, principalmente por causa do sol e das muitas e eternas subidas do caminho. Mas como esperava, por volta das 12h cheguei a Anápolis, almocei uma comida meio sofrida em um posto de gasolina na entrada da cidade, e aproveitei o lugar para esperar o sol se acalmar. Que agradavel abrir a blusa e deitar no cimento gelado do posto. Ao meu lado, um grupo de tres jovens com cara de UFG. Uma das garotas me chamou a atenção pelo layout cool: cabelos em dread, jeito moleca e soprando uma flauta. Eu também chamei a atenção deles, mas ficamos apenas na troca de olhares curiosos.
Por volta das 15 hs sai de Anápolis rumo a Planalmira. Muito calor, muita aridez, cansaço e subidas intermináveis. Por volta das 18h cheguei a planalmira, e na entrada da cidade não resisti e comprei queijo defumado e doce de leite em um carro-banca estacionado logo na entrada da cidade. Pedi um desconto maior, mas o vendedor não deu mole. Comprei e fui saindo. Engraçado relatar isso agora, mas ele se despediu de mim por duas vezes, e de um modo evangélico, cujas palavras não me lembro exatamente, mas enfatizavam DEUS. "O interior do estado parece ser quase todo evangélico", pensei.
Mais a frente parei no mesmo local que numa viagem anterior de bike a Piri eu havia parado. Curiosos cercaram a bike, enquanto eu tomava minha coca acompanhada com queijo defumado e banana. Fui rápido, pois o dia ja estava indo embora, e eu ainda tinha uns 20 km pela frente até chegara a Corumbá.
Pedalei com esforço mais algumas subidas, mas nada que se comparace com o que eu havia vencido até ali. Ja era noite quando cheguei na cidade. Logo na entrada pedi informação a uma mulher sobre onde eu poderia me hospedar. Ela também não conhecia o lugar, e chamou outra. A outra mulher tinha pinta de india, e me explicou com minucias o que eu deveria fazer pra chegar até a pousada. A amiga dela brincou, dizendo que eu teria que ter ótima cabeça pra guardar toda aquela interminavel explicação. "O negão tá jovem", disse ela sorrindo pra amiga.
Depois de passar pelas pousadas mais caras, cheguei na mais barata, que na verdade se chama "dormitório". Ali, uma simpática e familiar senhora me recebeu, e acertei com ela de passar a noite a R$ 25 (na primeira pousada estavam cobrando de R$60 a R$ 70.
Sai para comer algo, e na falta de um restaurante aberto (era sexta-feira da paixão). Cai nas pamonhas, alem de comprar uma água mineral atras da outra, pois o corpo cansado continua sentido sede por um bom tempo.
Fui até a igreja, e lá fiquei sabendo que teria uma procissão. Parecia que a cidade enteira estava lá. fiquei surpreso com o número de jonvens presentes. pareciam vestidos para ir ao shopping, mas ali estavam, com velas em punho. Não resisti... segui a procissão, sempre andando de lado, indo a frente para lá poder ver os andores. No centro a imagem de jesus, e em volta garotas vestidas de branco com veus negros na cabeça. Eu, que estava seguindo tudo de lado, como se estivesse apenas passando por ali, segui em frente, tentando interpretar aquela cena. Por que será que este menino toca esta matraca? estas garotas com veus simbolizam virgens? ou será que representam Maria, Madalena e as outras mulheres que seguiram jesus? Me rendi a minha ignorancia, e segui meu caminho. Lá na frente me ocorreu que a matraca serviria justamente para chamar a atenção de quem nao pode acompanhar a procissão. Ao som da matraca, todos saiam as janelas para ver a procissão... todos, exceto aqueles que lá na esquina jogam tranquilamente sua sinuca, e cujo elemento mais proximo da agua benta é o copo de cerveja.
Passei na porta de uma casa centenária que trazia em sua fachada a foto do jornalista José J. Veiga... A foto mostrava um homem orgulhosamente postado ao lado de um microfone da BBC. Numa placa de ferro, dizeres davam conta de que ali o jornalista e escritor havia passado sua infancia. No momento que eu lia a placa, uma mulhar saiu a porta, e eu disse a ela que em Goiânia eu tinha um professor na UFG que tinha o sobrenome Veiga, e eu quiz saber se os dois poderiam ser parentes distante. Ela disse que não sabia, mas que era possivel.
No outro dia, depois de uma noite sofrida por causa do colchão, do calor e do barulho que vinha da rua direto para meu quarto, sai para Salto de Corumbá. Logo no inicio da rodovia, enchi a barriga e os cantis com agua mineral que jorra em uma fonte na beira da estrada. O pedal foi tranquilo, e logo cheguei em Salto. A paisagem é de tirar o fôlego. Que lugar lindo. quanta água, quanta força a natureza mostra ali. Guardei minha bike na guarita, depois de pagar uma diária de R$ 25. A quanto tempo não me banhava em um rio. E como disse, no inicio, esqueci de colocar algumas coisas na mochila, inclusive a sunga... bom, então vai de bermuda mesmo. E me joguei na água de inicio fria, mas depois de um tempo, deliciosa. Um salva vidas me alertou que eu não poderia tomar banho ali, pois era muito fundo. Depois de me refrescar fui conhecer a cachoeira. IMENSA. e para chegar até lá é um calvario, com varios obstaculos. Fui direto para debaixo da água que cai a dezenas de metros. O impacto dos pingos é tão forte que parece granizo. Recomendo. do lado da cachoeira tem rapel e tirolesa.
Passei meu dia assim, mas na hora de pegar o onibus de volta tive dificuldade, pois ninguem soube me precisar a que horas ele passava... as informações iam de 3h as 4h. então fui para o ponto esperar. Tribos e mais tribos de ciclistas do motoclube de brasilia pararam por ali. Motos gigantescas, uma delas parecia um carro de duas rodas. (pena não postar fotos, pois meu cell deu pane). O onibus passou por volta das 4h, segui para Corumbá, e de lá para Gyn.
Recomendo aquela região para quem queira acampar. Tanto Salto de Corumbá quanto o trecho que vai de Anápolis até Planalmira, tem boas opções de camping.
Total: 140 km pedalados.